quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Louco

Enquanto dançava, tropeçava em estrelas, o louco. E me convidava, despudorado, a dançar uma milonga, perto da lua. E vibrava quando via que o céu escurecia, e só ele se via, prateado com a luz de fadas, uma lamparina. O sol, -ele me dizia - não vem mais. A noite é nossa, e eterna, pois já vivi tantos amanheceres e soube, sempre, cada vez, que a noite nunca acabaria. E se ria, sorria, colhendo no ar uma flor vazia, mas que perfumada e sedutora desabrochava, e ele respeitoso admirava, com seu sábio sorriso, o louco.


E desceu das estrelas, inda trôpego, como se fosse o banco da praça o degrau de seu trono, e se curvou aos meus ouvidos, a me contar um segredo:


“Sou louco porque já vivi, já morri de amor e sobrevivi, já conversei com a lua negra, lua nova que ninguém via, mas que estava ali. E sendo louco sei que vivi mais, e mais louco, do que as sãs pessoas que passam por aqui...”


Com uma reverência, me presenteou sua invisível flor, encostou-se em seu trono, baixou sobre os olhos o chapéu, e louco, adormeceu, antes que brilhasse no céu... o primeiro raio de sol.

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